A análise dos dados coletados pelo Sistema de Acompanhamento de Salários do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (SAS-DIEESE) revela que o primeiro semestre de 2015 foi o mais difícil para os trabalhadores desde 2008. As dificuldades podem ser notadas tanto na distribuição dos reajustes em comparação com a inflação medida pelo INPC-IBGE, quanto na queda do aumento real médio, que atingiu o menor valor do período analisado. No primeiro semestre do ano, foram observadas a maior proporção de reajustes com perdas reais (15%), a menor proporção de reajustes com aumento real (69%) e o menor aumento real médio (0,51% acima do INPC-IBGE) no período.
Ampliando o período de análise, é possível afirmar que resultados como o do primeiro semestre de 2015 não eram observados desde 2004, quando o percentual de reajustes abaixo da inflação atingiu, na totalização anual, cerca de 20%, e o aumento real médio foi de 0,6% acima do INPC-IBGE. Por outro lado, os resultados de 2015 são melhores do que os registrados entre 1996 – ano da primeira análise do balanço dos reajustes do DIEESE – e 2003. Nesse período, o percentual de reajustes abaixo da inflação foi sempre superior a 30%, e o reajustes superiores ao INPC-IBGE, quase sempre abaixo de 50%.
A maior dificuldade para a conquista de aumentos reais pode ser explicada, em grande medida, pela elevação dos índices de inflação no ano. A inflação acumulada em 12 meses que era de 6,2% em janeiro, segundo o INPC-IBGE, registrou alta nos meses de fevereiro, março e abril. Em maio se estabilizou e voltou a subir em junho, fechando o semestre em 8,8%. Os reajustes necessários para repor a inflação foram se tornando mais altos mês a mês. O reflexo da dificuldade de se negociar reajustes com ganhos reais pode ser constatado ao se comparar os resultados de janeiro (92%) e maio (50%).
Outros fatores podem ter contribuído para a piora nos resultados das negociações salariais, tais como: o recuo na atividade econômica, o aumento das taxas de desemprego, os prognósticos negativos para o desempenho da economia nos próximos meses e o agravamento da incerteza política e econômica. Neste cenário adverso, algumas categorias profissionais deixaram em segundo plano a luta salarial e adotaram como prioridade a defesa do emprego.
O desempenho das negociações salariais no segundo semestre de 2015 dependerá, em boa parte, do desenrolar do cenário atual. No entanto, outros fatores poderão contribuir para a mudança no quadro. Dentre eles, as diferenças de desempenho da empresa ou do setor, o peso econômico e a capacidade de mobilização das categorias profissionais com data-base no segundo semestre, que podem ser decisivos para a reversão dos indicadores atuais.
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