Apenas os brasileiros com sua criatividade irresponsável sabem inventar a crise crônica e a conjuntura de um dia só, pontuando uma semana de vários dias D. É o que estamos testemunhando: uma crise política exacerbada pela mídia e pelas pesquisas que se prolonga, sem solução, com reviravoltas estonteantes a todo o momento; as desorientações campeiam por todos os lados; barata-voa…
Em 1813, Antônio de Moraes e Silva, na boa edição de seu dicionário, o primeiro da língua brasileira, registrava a palavra crize (com z) em sua acepção médica como “mudança para melhor” e figuradamente como “o estado e circunstâncias arriscadas e perigosas em que alguém se acha”.
A atual crise brasileira oferece poucas condições de atender ao sentindo médico, mas é muito bem descrita no sentido figurado.
Parece que o horror sem fim vai pouco a pouco fulanizando a crise enquanto mascara as verdadeiras dificuldades.
Para mim é claro que, mesmo exagerada e deformada, existe crise política; no entanto, o quadro de recessão (que é real) não configura crise econômica e muito menos crise social.
Para os trabalhadores, exceto em uma ou outra manifestação induzida, a crise política tem preocupado muito menos que a recessão e o ajuste, que são vividos nas empresas com o crescimento das demissões e com as dificuldades reais para garantir o emprego e os reajustes de salários. Os trabalhadores estão apreensivos e esperam da direção sindical as orientações de resistência e a busca de soluções para seus verdadeiros problemas.
Nada lhes adiantaria “bater palmas para doido dançar” e se engolfarem no confuso torvelinho político que se lhes apresenta.
Muitos dirigentes já compreenderam isto e procuram mobilizar suas bases para obterem nas campanhas salariais em curso os melhores resultados possíveis. Não querem capitular e não querem turvar ainda mais as águas poluídas do Tietê político.
A resistência, a representação e a unidade de ação devem ser prioritárias; com elas se prepara, desde já, a possibilidade de retomada do crescimento econômico, derrotando o ajuste fiscal e a recessão e voltando-se às condições vantajosas da conjuntura dos últimos anos, sem os erros.
João Guilherme Vargas Netto, Consultor Sindical do Sintetel-SP e outras entidades sindicais.
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